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Bolsa Família versus microcrédito: o peixe ou a vara?

Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) traz à tona algumas fragilidades do programa Bolsa Família. Os resultados mostram que os beneficiários passam menos tempo em empregos formais, assim como demoram mais a encontrar outra vaga quando a perdem. Cerca de metade são dispensados ainda no primeiro ano, enquanto menos de 25% são recontratados nos quatro anos seguintes.

Apesar de sua importância e relevância como instrumento de redução da fome e da miséria para cerca de treze milhões de famílias, o desafio está em oferecer condições para que possam ascender na pirâmide social, deixando a dependência que possuem atualmente do Estado. O programa brasileiro não fixa prazos para o término do benefício, cujo pagamento é condicionado apenas à comprovação de uma renda individual mínima de cento e quarenta reais mensais.

Um interessante programa de erradicação da pobreza e ascensão social foi implantado em Bangladesh, um dos países mais pobres e populosos do globo, constantemente assolado por enchentes, ciclones, tornados e tsunamis devastadores. Muhammad Yunus, professor de economia rural da Universidade de Chittagong, criou um banco para concessão de microcrédito aos pobres locais. O Nobel da Paz considerava inadmissível que os pobres pagassem as maiores taxas às instituições financeiras, quando enfim conseguiam ultrapassar as barreiras burocráticas.

O experimento, que começou com um empréstimo de vinte e sete dólares do próprio bolso a algumas dezenas de aldeãs, transformou-se em uma instituição sólida com mais de duas mil agências, seis milhões de clientes e dezoito mil funcionários. Tamanho sucesso talvez possa trazer alguns ensinamentos aos nossos governantes, cujas principais diferenças estão na utilização deste empréstimo como gerador de renda, negócios e oportunidades, além do caráter de integração das comunidades locais.

Os empréstimos, pagamentos e solicitações de valores adicionais são realizados em reuniões semanais nos chamados centros comunitários, estruturas bastante simples nas quais os moradores locais podem discutir sobre novas idéias e negócios. A doutrina de Yunus, divulgada e disseminada pelos usuários do banco vai além do espírito empreendedor, incentivando a educação dos filhos, a preocupação com o meio ambiente e o espírito de solidariedade.

Artesanato, pequenos comércios e prestação de serviços são algumas das atividades realizadas de maneira individual ou através de cooperativas, as quais têm auxiliado na redução de índices como taxa de pobreza, crescimento populacional, oportunidades de educação, melhoria nas condições de moradia e saneamento básico.

Seja pelo fato da obrigação do pagamento dos juros, a pressão dos membros da comunidade ou a falta de programas assistenciais do governo, o fato é que um dos principais indicadores – a taxa de liquidação dos empréstimos – é bastante próxima a cem por cento, colocando por terra a correlação inversa entre renda e inadimplência apregoada pelos banqueiros locais.

Numa comparação bastante coloquial, os programas de inclusão brasileiros têm disponibilizado o peixe, enquanto o banqueiro dos pobres prefere ensinar os bengalis a pescar. Num curto período de tempo já se pode notar os resultados de cada um dos projetos. O primeiro, como bem mostra a pesquisa, gera cidadãos acomodados e improdutivos. Já o segundo, movimenta a economia local e transforma pobreza em dignidade. Temos muito que aprender com o exemplo estrangeiro.

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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