Apesar de piegas, o caso do goleiro Júlio César, comparado pelo próprio ao lutador Rocky Balboa, interpretado por Sylvester Stallone, serve para ilustrar alguns pontos importantes na condução de nossas carreiras. A superação demonstrada nos filmes pelo boxeador, tais como auto gerenciamento, ciclo de vida, busca de novas oportunidades e rede de relacionamentos, servem como paralelo entre os do mundo da bola e os dos e-mails. Vejamos como extrair algumas lições.
I) Auto gerenciamento: assim como Júlio César, revelado no Flamengo e amadurecido em outros clubes no exterior, é cada vez mais raro quem tenha seu nome ligado a uma única empresa, algo comum na época de nossos pais, quando entrar no Banco do Brasil e lá se aposentar era uma aspiração para muitos jovens. Hoje cabe ao profissional cuidar de sua carreira, construindo sua reputação e seu legado.
Apesar de mais flexível, o mercado ainda avalia mudanças frequentes de empresa e de setor, checando a evolução e a consistência dos movimentos. Desta forma, tenha cuidado com trocas que não agreguem desafios ou novos conhecimentos. Voltando ao mundo da bola, histórias como a dos jogadores Rogério Ceni e Marcos, coincidentemente goleiros de São Paulo e Palmeiras, são cada vez mais difíceis.
II) Ciclo de vida: assim como um produto, todo profissional tem seu ciclo, composto pelas etapas introdução, crescimento, maturidade e declínio. Comparativamente ao tempo do emprego vitalício, geladeiras, fogões e televisores aguentavam uma vida inteira, lembrados nas cerimônias de bodas. Estabilidade e segurança eram as palavras-chaves.
Hoje os eletrodomésticos duram o tempo de um casamento, da mesma forma que as relações entre empresas e empregados: demissões e desligamentos motivados por cortes de custos, fusões, aquisições e brigas políticas fazem parte do discurso para se conseguir uma recolocação. Em tempos de vacas magras, como a que vivemos agora, algumas vezes precisamos aceitar posições e salários menores, já que as contas não entendem momentos de dificuldade.
Ter consciência dos ciclos pode ajudá-lo a manter a calma até que a maré melhore. Para quem jogava na Inter de Milão, ir para um time menor na Inglaterra e vê-lo rebaixado para a segunda divisão exige coragem e sangue frio para não jogar a toalha.
III) Novas oportunidades: jogadores tem ciclos de vida curtos, mesmo aqueles que se destacam pela longevidade, usualmente não ultrapassam os 35 ou 40 anos, contrastando com executivos, médicos, advogados e outras profissões que exigem experiência acumulada, nas quais a maturidade é a melhor fase. O aumento da expectativa de vida, aliada a moderna medicina, tem trazido maior vida útil aos profissionais.
Em ambos os casos, muito tempo para colocar pijamas ou literalmente pendurar as chuteiras. Desta forma, pensar e investir em outra atividade enquanto se está na ativa é uma opção bastante interessante e saudável financeira e mentalmente. Técnicos, agentes de jogadores, presidentes de clubes e comentaristas são algumas opções aos ex-jogadores. Pare e reserve um tempo para pensar o que fazer no futuro, principalmente se os cabelos brancos já lhe fazem companhia.
IV) Rede de relacionamentos: os nascidos antes da conquista no México certamente se lembrarão como era procurar um novo trabalho, cujo processo passava pelos classificados de emprego. Marcar, recortar, colocar no correio e aguardar o telegrama. Época onde com um curso secundário era possível encontrar uma boa colocação. Jornais, classificados e bancas são itens em extinção, assim como empregos valiosos.
Para encontrá-los, redes sociais e a boa e velha rede de relacionamentos: amigos de faculdade, cursos de extensão, ex-chefes e colegas de empresa. Para mantê-los, telefonemas, almoços e encontros enquanto não se precisa, já que procurá-los só para pedir favor pode soar interesseiro. Ter Felipão como técnico foi de grande valia a Julio e Fred. O mesmo não pôde dizer Ronaldinho.
Enfim, carreira é algo muito sério para não se investir tempo planejando-a de maneira estratégica, definindo objetivos de curto, médio e longo prazos, avaliando regularmente sua situação frente as exigências do mercado, corrigindo as lacunas, medindo constantemente seu progresso, adaptando a rota e preparando-se para as oportunidades que podem surgir. Ninguém imaginava que o desacreditado Julio César poderia voltar a ser o astro da seleção. Talvez apenas o turrão do Felipão, que também está tendo sua ultima chance.
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.
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