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Aliança entre Lula e Maluf: as lições para o mundo empresarial

A surpreendente política brasileira mais uma vez nos proporcionou momentos impagáveis na semana passada. Uma foto que ficará para a história, tirada na casa do ex-prefeito de São Paulo, mostra um Lula bastante sorridente e à vontade, observado ao fundo pelo perplexo e cabisbaixo Haddad. Do outro lado, o sorriso sempre cínico e maroto, característico de Paulo Maluf, completava a cena bizarra.

 

Tal acordo se baseia numa teoria defendida pelo ex-presidente, o qual pretende tornar conhecido o semidesconhecido ministro da Educação, investindo na mídia de massa através do horário eleitoral gratuito, repetindo o feito de Dilma. Com a parceria, a coligação já apelidada de Malddad, composto pelos sobrenomes de Paulo e Fernando, ganhará cerca de 90 segundos adicionais para tentar convencer os paulistanos.

 

Não obstante a retórica e a ideologia – ou sua total ausência – dos políticos e seus partidos, sobre as quais prefiro não me aprofundar, acredito que este acontecimento pode trazer algumas lições ao mundo empresarial. Quais motivos, vantagens e eventuais problemas podem decorrer de alianças e parcerias? Que cuidados tomar para não se meter numa saia justa, comprometendo sua imagem?

 

Em suma, empresas se associam para obterem diferenciais e vantagens, as quais podem vir na forma de novos mercados, produtos, tecnologias, modelos de negócio, escala de produção, oportunidades ou até mesmo retaliação. Em suma, o objetivo é criar condições para um ambiente competitivo mais favorável. A ideia básica pode ser resumida no conceito de sinergia, no qual o todo é maior que a soma das partes.

 

O pesquisador americano Jay Barney, em artigo publicado no Journal of Management, apresentou um modelo denominado como VRIO, o qual pode ser utilizado para listar as motivações de uma parceria. Com base nesta teoria, uma empresa obteria uma vantagem competitiva sustentável quando seus recursos, ativos e capacidades puderem ser classificados como valiosos, raros, difíceis de imitar e explorados pela organização. Vejamos dois exemplos.

 

Acesso à tecnologia e mercados: a parceria firmada entre Toyota e GM, criando a empresa NUMMI, tinha como objetivos fornecer acesso ao sistema de produção enxuta da montadora japonesa, lean manufacturing, em contrapartida a criação de uma planta no maior mercado consumidor mundial. Troca de ativos e recursos valiosos, raros e difíceis de imitar, os quais foram mais bem explorados pela montadora japonesa, conforme prova a história recente.

 

Oportunidades: muitas vezes o acaso colabora para o destino. Quem diria que os inimigos quase mortais Perdigão e Sadia, os quais travaram batalhas nas gôndolas e nos comerciais de televisão, um dia estariam sob o mesmo teto? Uma aposta financeira errônea fez com que a então líder Sadia fosse às cordas. E imaginar que alguns anos antes tentou comprar a rival por meio de uma oferta hostil. Chance única para a Perdigão ganhar escala, tornando-se líder quase monopolista em diversos setores. Algo valioso, raro e difícil de imitar.

 

Adquirentes costumam contratar firmas de auditoria e consultoria, conduzindo investigações sobre a situação legal, contábil e financeira da adquirida. Este processo, também denominado como Due Diligence, cobre diversas áreas, tais como societária, fiscal, trabalhista, marcas e patentes, dentre outras. Quando bem realizado e conduzido, costumam trazer maior segurança e transparência aos envolvidos.

 

Voltando ao caso ocorrido nos jardins da mansão do ex-prefeito em bairro nobre de São Paulo, podemos analisar o tempo conseguido no horário eleitoral como um ativo valioso, raro e difícil de imitar, uma vez que o tempo é estabelecido por meio da participação dos partidos na cena política. Apesar de atender os requisitos propostos por Jay Barney, acredito que a coligação esdrúxula trará pouca ou nenhuma vantagem competitiva ao PT. Talvez estes sejam os 90 segundos mais caros da vida de Lula e seu companheiro Haddad. Outubro está logo aí.

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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