Há poucas sensações tão prazerosas quanto entrar em uma boa livraria, percorrer suas estantes sem pressa, escolher um livro ao acaso, sentir seu peso, admirar sua capa, folheá-lo enquanto sente o cheiro de papel impresso. Trazê-lo para casa, colocá-lo em seu criado mudo fazendo companhia aos demais livros inacabados, levá-lo ao trabalho e a praia, emprestá-lo aos amigos e por fim, repousá-lo em sua estante, lembrando-se dos bons momentos vividos.
Imagine agora um mundo dominado por livros digitais. Nos corredores dos shoppings e centros de conveniência, antigas livrarias remodelaram seu portfólio para poderem sobreviver, oferecendo eletroeletrônicos, computadores, acessórios, material de papelaria, café, pão de queijo e acesso à internet. Qualquer semelhança com as megastores é mera coincidência. Quanto aos livros, disponíveis em um canto sem muito charme, em dois ou três totens de autoatendimento, nos quais os leitores podem baixá-los para seus tablets ou leitores digitais.
Independentemente de que lado você se encontre, é inexorável o impacto que o formato digital provocará nos livros como hoje conhecemos. Faça um breve retrocesso no tempo, lembrando-se das lojas de CDs e DVDs, hoje confinadas a galerias e shoppings de menor expressão. Aos paulistanos de meia idade, ir a uma loja Hi-Fi, seja na Augusta ou no Shopping Iguatemi era quase um programa. Os antigos vinis, jogados fora ou levados para a casa de campo, substituídos pelo tocador de MP3.
A entrada da Amazon no próximo dia 01 de setembro, poderá se transformar em um marco para o setor editorial brasileiro. Com um faturamento de U$ 48 bilhões, o gigante do e-commerce detêm 75% do mercado de livros físicos e 65% dos e-books no imenso e concorrido segmento editorial norte americano, onde as vendas de e-books movimentaram cerca de U$ 400 milhões de dólares em 2011, conforme dados da The Yankee Group.
Por aqui ainda estamos engatinhando, conforme dados coletados por Carlos Carrenho; sócio fundador do Publish News. Carrenho cita alguns exemplos tais como o livro A Cabana, com 200 mil cópias em papel versus 1.000 downloads e o hit Comer, rezar e amar, com míseros 75 downloads versus 10 mil livros impressos. Enfim, a editora Zahar, que produz livros digitais há dois anos, cujo faturamento de seus e-books representa apenas 0,1% do total.
Os concorrentes nacionais Saraiva, Cultura, Gato Sabido e Ponto Frio/ Casas Bahia, contam com poucas opções de títulos em formato eletrônico, assim como leitores digitais. Talvez ainda preocupados em azeitar suas operações online em um mercado que atingiu a marca de R$ 31 milhões de reais, certamente enfrentarão um concorrente de peso, apesar das incertezas com relação aos acordos com editoras e preço sugerido de seu leitor, duas grandes barreiras a serem transpostas.
Determinar quando os livros digitais ultrapassarão seu congênere impresso é hoje um exercício de futurologia, porém adaptar o atual modelo de negócios para o novo formato é uma obrigação para escritores, editoras, gráficas, livrarias e demais integrantes de sua cadeia produtiva e de distribuição. Pense por um momento na logística necessária para lançar um livro em território nacional. Impressão em grande escala, armazenagem, distribuição, entrega e exposição em milhares de pontos de vendas. Em seu novo formato, não mais do que algum espaço em nuvem, servidores e alguns cliques.
Agora pare e vá até sua estante ou biblioteca particular. Olhe e admire seus livros por um instante. Apesar de pouco provável, não será impossível que um dia façam companhia aos seus vinis, fitas de vídeo cassete, CDs e DVDs, empoeirando em algum canto da casa. Em seu lugar, uma única biblioteca digital, mais conveniente, prática e atualizada, na qual você poderá compartilhar com seus amigos seus títulos preferidos, reler livros que há muito não lia e acessar bibliotecas em qualquer parte do mundo. Enfim, centenas ou milhares de livros na palma da mão e a um clique, pagando e pesando pouco menos que um exemplar impresso por mês.
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