Com a entrada em vigor da resolção 96/08 da Anvisa, a qual cria novas regras para propagandas de medicamentos, poderá haver uma mudança na maneira pela qual os laboratórios promovem seus produtos. O grande vencedor neste caso seriam os pontos de venda, em especial as grandes redes de farmácias, as quais poderiam tornar-se um centro de bem estar.
Temos acompanhado o alarmante aumento nos casos de pessoas infectadas pela gripe suína. A doença tem provocado o fim dos estoques de máscaras, viagens frustradas de férias a países atingidos e uma grande corrida às farmácias para a compra de medicamentos. Prejuízo ao turismo e aos negócios, e lucro aos fabricantes de remédios contra gripe.
Entretanto, em meio a esta pandemia, a indústria farmacêutica brasileira vive uma nova reviravolta com a entrada em vigor da Resolução 96/08 da Anvisa, cujo objetivo é diminuir o consumo indiscriminado de medicamentos sem receita médica.
Foram criadas novas regras para propagandas de medicamentos, que não poderão utilizar celebridades recomendando o uso. Fabricantes tornam-se obrigados a informar possíveis efeitos colaterais, muito além do já conhecido “ao persistirem os sintomas um médico deverá ser consultado”, o que consumirá valiosos segundos dos comerciais de televisão e rádio.
A medida surge quase 10 anos depois da revolução causada pela lei dos genéricos e certamente levará a indústria farmacêutica a mais uma revisão radical do composto de marketing.
As grandes redes já têm investido na mudança gradual do mix de produtos oferecidos, aumentando a participação de itens com maiores margens, como cosméticos, itens de higiene pessoal, artigos de conveniência, bebidas e até alimentos. Apesar do esforço, o foco continua na ampliação da oferta de produtos muito similares, com pouca ou nenhuma inovação na prestação de serviços.
Para poderem competir no novo cenário, as redes terão que colocar foco nos serviços suplementares, oferecendo bem mais que um serviço rápido e eficiente de compra de medicamentos. O foco mudará para itens de maior valor agregado, como consultoria, hospitalidade, proteção e atendimento a exceções.
Imagine chegar à farmácia, deixar seu veículo com o manobrista, conferir as novidades em cosméticos, fazer uma sessão de massagem, assistir a uma palestra sobre bem estar, aferir a pressão arterial, cortar o cabelo, agendar uma consulta médica e até comprar remédios. O foco estaria na prestação de serviços e na oferta de soluções, não apenas na ampliação da variedade de produtos ofertados. Bom para o varejo e principalmente para os consumidores.
À indústria restará a ampliação dos investimentos em pesquisas para a criação de novos medicamentos que minimizem o sofrimento de tantos pacientes, em vez de simplesmente incentivar o consumo dos já conhecidos analgésicos e antibióticos.
Porém, vale ressaltar que nada disso irá conter o uso indiscriminado de medicamentos. Essa conscientização só acontecerá com campanhas educativas de massa, nos moldes realizados para a Aids, a dengue ou a Lei Seca. E, definitivamente, este não é o papel dos fabricantes e nem das redes farmacêuticas, os quais estão se adaptando novamente a mais uma resolução do governo. Cada um que faça sua parte.