É fato comprovado. Como empregados, fomos acostumados a pedir, solicitar, reclamar, protestar e reivindicar por melhores condições de trabalho: salários, bonificações, abonos, auxílios, vales, adiantamentos, dissídios, reajustes e férias. Talvez consequência dos movimentos ludista e cartista ocorridos no século XVIII, quando engatinhávamos na relação empregado versus empregador, lutando pela extinção do trabalho infantil e de jornadas que beiravam 80 horas semanais ou dos movimentos sindicais no início dos anos 80, quando um sindicalista barbudo literalmente parou o ABC paulista.
E já que estamos em janeiro, que tal começar diferente deixando de lado a cobrança, cabendo a nós, enquanto colaboradores, oferecer e adotar uma postura mais gentil, produtiva, proativa e colaborativa? Não obstante soar estranho, invertê-la poderá trazer maior disposição para encarar a segunda-feira, suportar o mau humor do chefe ou as pesadas cobranças do dia a dia, tornando sua vida corporativa um pouco mais leve e descontraída. Seguem algumas valiosas dicas que aprendi gerenciando, liderando ou simplesmente observando, cujas situações e fatos o remeterão a conhecidos do batente.
Olhe sempre a parte cheia do copo: há pessoas que adoram enxergar a parte ruim e o lado negativo das coisas. Pessimistas, fazem questão de analisar em profundidade tudo o que lhe é apresentado, encontrando sempre algum ponto que sirva como base para minar o projeto, a proposta ou a melhoria, olhando a metade vazia do copo. Não raro são profissionais inteligentes, os quais poderiam ter melhores chances caso utilizassem seu tempo e capacidade analítica na outra parte do copo.
Seja positivo: é comum que o pessimista se enquadre na categoria dos que reclamam por default, às vezes desfiando seu rosário antes mesmo que uma ideia seja concluída ou uma tarefa requisitada por completo. Costumam ser pouco requisitados ou ficarem de fora dos melhores comitês, já que nem todos os gestores suportariam ter voluntariamente em suas equipes um personagem como a hiena do seriado infantil Lippy e Hardy, de Hanna Barbera, famosa pelo bordão: ó dia, ó vida, ó azar.
Faça bem feito: de acordo com reportagem da revista Exame, a produtividade do trabalhador brasileiro é 1/5 do americano, corroborando a frase de Henry Ford do inicio do século XX: “Há uma única regra para um industrial: faça produtos com a melhor qualidade possível, ao menor custo, pagando os salários mais altos que puder”. Tente ser mais produtivo, fazendo bem feito da primeira vez. Além de agradar o empresariado, certamente irá gerar uma boa impressão aos que estão ao seu redor.
Pense coletivamente: numa época em que vivemos conectados em redes, compartilhando e colaborando, é paradoxal que hajam pessoas que insistam em pensar e agir de maneira individual, cuidando do seu quadrado tão somente. As frases preferidas são: isto não é minha responsabilidade, não sou pago para isso ou ainda esta atividade é de fulano ou sicrano. Um grande erro, já que muitas vezes as maiores oportunidades estão em áreas cinzas, sem uma pessoa ou cargo pré-definido.
Foque no trabalho: pesquisa realizada pelo Fantástico com 1.600 pessoas mostra que cerca de 70% dos entrevistados gastam até uma hora tratando de assuntos externos ao trabalho. A lista aqui é extensa: banco, Facebook, notícias, namoro, família e tudo que você sabe de cor. Já soube de demissões por descumprimento as politicas de TI das empresas. A dica aqui é se policiar e criar algumas regrinhas. O pior que pode acontecer é chegar mais cedo em casa, sobrando mais tempo para sua vida pessoal.
Enfim, a não ser que você seja um vereador de uma grande capital, deputado ou senador e possa contar com vales, bonificações e auxílios do tipo viagem, paletó, gráfica, moradia, carro, assessor, secretário e gabinete, levando uma vida leve com jornada de terça a quinta-feira e 60 dias de férias, adotar as dicas mencionadas poderá ajudá-lo a suportar o ano que temos pela frente – além de poder render alguns bons frutos. Vale lembrar que greves e paralisações raramente trazem bons resultados, com raras exceções tais como o ex-sindicalista do ABC que passou da aguardente e do cigarro sem filtro, para os escoceses envelhecidos em barris de carvalho e cubanos legítimos.