Os candidatos à presidência aguardam com ansiedade o início do horário político eleitoral gratuito, na próxima terça-feira. De acordo com seus assessores, é hora de obter os votos dos indecisos ou mudar as opiniões daqueles nem tão convencidos assim – os quais terão o poder de decidir a eleição em outubro ou levar o pleito ao segundo turno. Tamanha inquietude não é vista do outro lado da tela ou do dial. Afinal de contas, ter seus programas favoritos interrompidos diariamente por quase uma hora não é um dos convites mais tentadores.
Os moradores das grandes cidades ficarão sem informações preciosas sobre as condições do trânsito e dos aeroportos, na meia hora seguinte às sete da manhã. Isto sem falar nas novelas vespertinas e o horário nobre da televisão. Toda a grade deverá ser modificada ou reduzida, causando transtorno às emissoras e aos cidadãos, os quais levarão alguns dias até se acostumarem às modificações impostas.
Voltemos alguns anos no tempo, numa época em que a única televisão da casa ficava na sala, em local de destaque. Com sua caixa de madeira, precisava de alguns minutos até que a imagem aparecesse, após o aquecimento das válvulas. Chuviscos eram constantes na imagem distorcida, os quais eram corrigidos com um Bombril na ponta da antena; talvez sua 1001ª utilidade.
A oferta era restrita aos canais 2, 4, 5, 7, 9, 11 e 13. TV Cultura, SBT, Globo, Record, a extinta Manchete, Gazeta e Bandeirantes. Enquanto garoto, aguardava com ansiedade os desenhos, os quais tinham hora e local para acontecer – tenho dificuldades para explicar este conceito para minha filha de seis anos, afinal há mais canais de desenhos na TV paga do que havia em toda a TV aberta – o mesmo não ocorria com os horários eleitorais gratuitos. Desligá-la era a única opção, não recomendável pela questão das válvulas.
O cenário transformou-se de maneira dramática. Temos atualmente muito mais alternativas de entretenimento que há algumas décadas. Olhe ao redor e perceba que a família não mais se encontra na sala em volta da TV, após o jantar. A TV paga já é lugar-comum nas casas da classe C. Os jovens em especial não se sujeitam aos horários e programações estipulados pela grade de programação. Gravam seus episódios em DVR, assistindo-os na hora desejada. E é claro, pulando os comerciais e programas eleitorais.
O que dizer então da web. Com o seu advento, uma proliferação de sites, blogs, redes sociais e serviços de trocas de mensagens. Um tempo cada vez maior é dedicado aos bits e bytes. Somos o país com o maior número de usuários da rede social Orkut, além de campeões no que tange ao tempo despendido nas redes sociais. Esta constatação leva a um fato curioso. Passamos de meros ouvintes para produtores de conteúdo. Deixamos o conforto do sofá no qual zapeávamos os canais sem maiores preocupações, para a direção de nossos próprios programas. Pense por um minuto nos sites de maior audiência da Web. Facebook, Orkut, You Tube, Flickr, My Space e Wikipédia, só para citar alguns. Em comum, somos os responsáveis pela geração de conteúdo, postagem de fotos, discussões e atualizações.
É paradoxal que apesar de todo o avanço tecnológico, a propaganda eleitoral gratuita continua quase da mesma maneira que há décadas atrás, apesar do maior cuidado dos marqueteiros com a produção visual dos postulantes.
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